As aparências iludem


Tinha acabado de chegar a Portugal. Nessa noite ia ver um concerto, por isso resolvi ficar num hotel em Lisboa durante o fim-de-semana, aproveitando para mostar um pouco de Lisboa às pessoas que estavam comigo. No hotel, larguei as malas, tomei duche e vesti outra roupa. Visto que esse concerto era no Paradise Garage, a nossa endumentária não tinha de ser tão formal como se fosse ver o Pavarotti. Antes pelo contrário, se vais todo bem vestido, arriscas-te a ficar mal visto. Vesti a roupa apropriada para o evento. Bota biqueira de aço, calção pelo joelho, t-shirt com o nome da banda em questão e um penteado à "acabado de acordar".

Como tinha receio que o cartão do meu banco não funcionasse em Portugal, eu trazia na carteira dinheiro vivo, por volta de 3,500 euros. Planeava ir a um banco fazer um depósito, depois ia dar uma volta, jantar e finalmente iamos ao concerto!

Tenho quase a certeza que foi no Colombo, mas não aposto. Lá, deparei com a loja Maximo Dutti. A minha namorada na altura, adorava o perfume desse estilista e ele só se vendia na cadeia de lojas com o mesmo nome. Entro e dirijo-me à vitrine onde estava o perfume.

Após alguns minutos de espera, uma rapariga "fez o favor" de me atender. Olhou-me de alto a baixo com cara de enjoada.

- Posso ajudá-lo?

- Pode, quanto custa este prefume?

A minha questão devia-se ao facto de haver 2 caixas diferentes do mesmo perfume. Nisto ela responde:

- É caro!

Que vaca! Um gajo para ir à Maximo Dutti tem de ir de fato e gravata pelos vistos.

- Caro? Talvez seja caro para sim! Eu levo o mais caro que tiver.

Ela fica a olhar para mim com cara de parva e pega na caixa maior. Já atrapalhada diz:

- Com ou sem doseador?

- Qual é o mais caro?

- Com doseador.

- Então isso nem se pergunta, quero o mais caro.

Por ter dito pronunciado "o mais caro" duas vezes, veio logo um rapaz com uma placa ao peito a dizer "gerente". Ele tinha estado a observar a situação mas agora já não estava a sorrir.

- Posso ajudá-lo em mais alguma coisa.

- Acha mesmo, que eu compro aqui mais alguma coisa?

O rapazinho baixou a cabeça, percebeu perfeitamente o que eu queria dizer.

Como ainda não tinha ido ao banco, fiz questão de pagar os 78€ do perfume com uma nota de 500€ só para chatear.


É isto que me irrita em muitos portugueses, o facto da avaliarem as pessoas pela aparência. Se eu fizesse isso em Hamburgo, estava no fundo de desemprego. Na empresa onde trabalho, uma "villa", onde temos de andar de fato e gravata, independentemente se estão -15 graus ou 40 graus, temos como clientes alguns dos homens e mulheres mais ricos de Hamburgo. O nosso cliente mais importante, tem os seus 60 anos e entra nos nossos escritórios de jeans rotas no joelho, botas à cowboy, camisa aberta a deixar ver uma t-shirt que diz "despe-te, deita-te, preciso de falar contigo", o seu cabelo, que já só tem metade do que devia, está todo espetado no ar com gel. Se fosse a julgar esse cliente pela sua aparência, eu teria sido despedido e provavelmente não iria conseguir trabalhar no mesmo ramo para o resto da minha vida.

Acho incrível o julgamento de pessoas que não se conhecem, mais incrível ainda é julgá-las pelo que vestem. O vocalista dos Aerosmith, disse uma noite nos MTV Awards "Se vocês soubessem o caro que é vestirmo-nos de uma forma tão rasca...".

   

12 Comentários:

  Anónimo

sábado, julho 21, 2007 4:02:00 da tarde

O que mais me irrita na maioria dos portugueses é precisamente só viverem de aparências. O melhor carro, roupa da moda, último telemovel... Cá de fora vê-se que Portugal está muito mal, mas ninguém quer crer! Sou portuguesa com muito orgulhom mas se não se muda a mentalidade vamos ser dos paises mais pobres do mundo!

  Bruno Fehr

segunda-feira, julho 23, 2007 8:46:00 da manhã

Viver de aparências faz parte da cultura portuguesa. Nasci, estudei e vivi em Portugal muitos anos, mas não conseguimos criticar correctamente algo, enquando fazemos parte desse mundo. Agora que visito Portugal de tempos a tempo, vejo a realidade.

Na verdade, Julgo que Portugal já é dos países mais pobres do mundo. Os países da America latina já nos passaram economicamente e até alguns países Africanos.

Os portugueses gostam de ter para impressionar e para isso gastam mais do que o que recebem...

  Babe Certificada

segunda-feira, julho 23, 2007 4:49:00 da tarde

Por acaso nunca passei por uma situação assim, e já fui a essa loja várias vezes. Mas, tanto é nas "boas" lojas, como nas outras. Infelizmente, passa por ter gente sem formação a atender o pessoal. É o mesmo que estares num restaurante, pedires mais uma garrafa de vinho e em vez de te servirem, calados, dizem "Outra?"

  Bruno Fehr

segunda-feira, julho 23, 2007 5:03:00 da tarde

Exacto. Apesar de falar de uma situação em particular, eu refiro-me à nossa sociedade. O português julga muito pelas aparências, não todos mas muitos.

Já fui a Portugal em trabalho. Devido a reuniões constantes, andava de fato todo o dia. Em cafés e restaurantes (principalmente) Cascais, os empregados de mesa tratavam-me por Dr.! Ao primeiro que o fez, eu disse-lhe que não era doutor, então ele começou a tratar-me por Sr. Engenheiro.

Aparências. Se tivesse lá ido de jeans rotos, não me deixavam entrar...

  Anónimo

sábado, setembro 08, 2007 1:58:00 da tarde

Aconteceu-me o mesmo quando uma vez entrei numa loja da Ana Sousa com uns corsários brancos e uma blusa de algodão azul, era sabado de manhã, estava calor e eu só não andava mais despida porque sou timida...:D
Andava à procura de um vestido para um casamento de uma amiga, cumprimentei toda a gente com um jovial "bom dia" e só recebo uns olhares de alto a baixo, como que a dizer "aqui não és bem vinda".
Dei meia volta e fui embora, sitios onde gastar dinheiro é o que mais há.

  Bruno Fehr

sábado, setembro 08, 2007 5:19:00 da tarde

Musa:

Mas eu não engulo a arrogância de funcionários de uma loja. Alguém que recebe o ordenado minímo para dar ares de superior...

  Anónimo

quinta-feira, novembro 08, 2007 11:44:00 da tarde

Chego aqui por acaso, mas ao ver todos os comentários, não resisto a contar uma história. Sitio: Centro Comercial Vasco da Gama. Loja: Lanidor. Entrei, calmamente, porque me interessei por umas coisas que estavam na montra. E, para mais, desenhadas por uma grande amiga que é estilista da marca. Cumprimentei com um sorridente bom dia, ao qual não obtive qualquer resposta. A suposta senhora que estava ao atentimento escrevia algo (talvez as "memórias amarguradas de uma empregada de loja"...)e assim continuou. Nem soube olhar. Fui directa ao que pretendia na loja, experimentei, e interpelei a "senhora", que finalmente disse:"É só?" Olhei, surpreendida com o seco "é só" e respondi friamente com um sim e um "Embrulhe". Ela embrulhou, eu paguei, ela não disse nem obrigada, e eu vinguei-me! Eheh! Antes de sair da loja, mesmo á porta, tirei o embrulho no saco, rasguei o papel e vesti prontamente o que tinha comprado (um casaco) sobe o olhar aterrorizado da "senhora"! "O meu embrulho!" - terá pensado. Ou então não pensou de todo...a má formação de que tinha dado provas momentos antes, não dá para tanto. Provávelmente virei mencionada nas suas "memórias amarguradas de uma empregada de loja", isto se tiver latim suficiente no seu parco vocabulário para escrever, pois palavras, fossem elas quais fossem, não eram o forte da "senhora". Ou então dirá apenas "é sós" infinitamente! E são estas as glórias no nosso país...

  Bruno Fehr

sexta-feira, novembro 09, 2007 4:04:00 da tarde

Anónimo:

Ahaha, bem feito :P

Com pessoas assim, eu sou mais arrogante que elas, se eu digo bom, dia e não obtenho resposta, repondo por eles "bom dias para sim também". Ou comento como a simpatia do funcionário me impressionou!

Isto não é um problema Português, eu moro na Alemanha, eu sei como sou cercado numa loja quando entro com a roupa de trabalho e quando entro vestido casualmente. São só duas maneiras de vestir diferentes, a conta bancária é igual :P

  R.

quarta-feira, julho 29, 2009 1:11:00 da manhã

Nunca me aconteceu algo assim mas também recebo olhares diferentes consoante a maneira como ando vestida. Quando estou a trabalhar de calças vincadas e camisa, até senhora me chamam, quando visto calças rasgadas e all stars meio sujas nem olham para mim duas vezes. E isto é irritante. Porque tal como tu dizes, eu continuo a ter o mesmo dinheiro, esteja vestida de uma maneira ou outra.

Ah, e também adoro as empregadas antipáticas ou que olham com ar de desprezo. Devem achar-se as melhores só por trabalharem em lojas caras. Ou não. As da Zara/Bershka e afins são igualmente antipáticas. Aqui há tempos perguntei "tem esta blusa em S?", a empregada olhou pra mim como quem diz "tu não vestes o S", fez cara de enjoo e lá foi buscar a blusa. E é assim que se tratam as clientes, a fazê-las sentirem-se gordas.

  Anónimo

quinta-feira, julho 30, 2009 11:03:00 da tarde

Não querendo ser chata nem chamar mentiroso a ninguém, mas de certeza que entrou numa Massimo Dutti (até porque poderá ser outra loja, uma vez que o nome correcto é este aqui escrito...)?
É que lá não se vendem perfumes de 78Euros, nem bálsamo e nem after-shave com esse valor...
Quanto ao atendimento, como deve calcular ,e no seu trabalho será provavelmente igual, há de tudo: quem seja experiente e quem não seja, quem seja competente e quem não seja.

  Bruno Fehr

quinta-feira, julho 30, 2009 11:16:00 da tarde

Anónimo;

"É que lá não se vendem perfumes de 78Euros, nem bálsamo e nem after-shave com esse valor..."

Acredito que não se venda Balsamo e after-shave, até porque que eu saiba o perfume da marca é de mulheres e quando foi lançado só se vendia nas lojas da marca e não em mais loja nenhuma, nem sequer perfumarias. Se hoje em dia não o vende, é possível pois os perfumes passam de moda e nao estou a par se fizeram perfumes novos.

No entanto o perfume em questão é exactamente o perfume da foto que ilustra o texto.

"Quanto ao atendimento, como deve calcular ,e no seu trabalho será provavelmente igual, há de tudo: quem seja experiente e quem não seja, quem seja competente e quem não seja."

Discordo, se esse tipo de atitudes existissem no meu ramo, perderíamos os nossos melhores clientes, é porque um dos nossos mais ricos investidores parece um vagabundo. Além disso se visitar a cidade onde moro, perceberá que ninguém é julgado pela sua aparência seja em que loja for.

  Bruno Fehr

quinta-feira, novembro 05, 2009 6:38:00 da manhã

rita e/ou anónimo:

Tristes seres, que são na verdade um pois o anónimo defende uma vaca chamada rita e a rita engana-se e fala como anónimo. Que triste pessoa és.

Os comentários foram apagados para limpar o lixo do meu blogue, mas tens a minha morada e poderá recebe-la novamente por mail. Já provei que sou mais homem do que alguma vez serás pois dei-te os dados para cumprires as tuas ameaças e o que aconteceu foi fugires como um cobarde. O cobarde que és e sempre serás!