Hoje estou triste e quando assim estou não há nada a fazer, não quero falar com ninguém, não quero estar com pessoas. Quero estar sozinho, eu e as minhas memórias. Escrevo na mesma mas não gosto do que escrevo. Hoje é o aniversário da minha tristeza. Não sou uma pessoa triste, antes pelo contrário mas o dia 19 de Julho é sempre assim. Perdi alguém neste dia, tal como perdi muita gente noutros dias, mas este doí mais. A pessoa perdida não era família, nem conhecida de longa data. Foi sim, uma pessoa que apareceu do nada, marcou a minha vida e foi-me roubada sem aviso. Há quem lhe chame destino, ao que eu respondo, "destino o caralho!".
Porque motivo as pessoa sentem necessidade de dizer algo a quem chora uma morte? Na verdade, ninguém sabe o que dizer a quem perdeu alguém. Acham que “devem” dizer algo. Não! Não devem. Devem é ficar calados. O silêncio é a melhor maneira de respeitar os sentimento de quem sofre uma perda.
"Os meus sentimentos", as pessoa na verdade dão-nos os sentimentos. É ridículo que numa altura em que não conseguimos compreender, nem lidar com os nossos sentimentos, as pessoas ainda nos querem dar os delas. Não obrigado, os meus sentimentos chegam perfeitamente.
"Sei como te deves estar a sentir", dizem também. Como se “deve” uma pessoa sentir? Se realmente soubessem como me sinto, não usariam a palavra “deve”. "Sei..." implica certeza, "deve..." implica incerteza, o que torna esta frase vazia de significado.
O melhor é não dizer nada. Ainda hoje me lembro do olhar da Joana, essa sim disse tudo sem nada dizer, olhou-me nos olhos e viu a minha dor, ao olhar nos olhos dela via sua força. Bastou um breve olhar e os nossos corações falaram. O que disseram não sei, mas sei que foram as palavras certas, pois por momentos as lágrimas pararam e a dor fez um segundo de pausa.
Em memória de E.H. 19.07.98
7 Comentários:
sábado, setembro 08, 2007 1:46:00 da tarde
Isso eu conheço bem...
03 de outubro de 1996, quando ás 12.30h o vento soprou com mais força e eu finalmente soube que o Miguel tinha sido levado de mim...no dia dos meus anos fui enterra-lo.
"Coitada de ti", dizem.
Coitada o caralho, só não queria que ele partisse, só isso!
sábado, setembro 08, 2007 5:06:00 da tarde
Musa:
As pessoas, deveriam saber que o silêncio é o melhor, pios as palavras são sempre as erradas!
quarta-feira, outubro 22, 2008 9:37:00 da tarde
Tive que voltar aqui...
terça-feira, outubro 28, 2008 5:53:00 da manhã
Foi Bom disse...
"Tive que voltar aqui..."
Um ano depois...
quarta-feira, novembro 05, 2008 5:27:00 da manhã
10 anos e ela ainda vive... Vive em ti e em todos os que se lembram dela... Nunca morrerá, porque tu nunca adeixarás partir.
:)
É bonito!
segunda-feira, maio 25, 2009 3:43:00 da manhã
Dependendo das pessoas e das situações...
No funeral do meu professor de SPSS (que foi meu prof. no bacharelato, na licenciatura e no mestrado), que morreu com cancro tal como a minha tia Zi, deixei-me estar a chorar sossegada no meu canto, até poder ir ter com a viúva, que está na biblioteca da escola e quem eu estimo. Ela viu-me, no meio de muitos conhecidos e amigos, e foi a mim que se abraçou e chorámos as duas, e eu disse-lhe "Ele agora já não sofre, D. Laura, agora está em paz..."
No funeral da minha tia, cumprimentei toda a gente, ri e chorei, entre lembranças boas dela e alívio pela partida, pelo fim da dor. Quando me pediram para fazer uma leitura, desmanchei-me a chorar, enquanto lia.
No funeral do meu tio, que morreu dois dias depois de o ter ido visitar, chorei sozinha. Uma das minhas tias é que me veio dar força, preocupada com o facto de eu ter ainda uma viagem longa pela frente.
No funeral do avô da Pipokita, senhor que eu nem sequer conhecia, vi a Pipokita a ser forte por ela, pela mãe, pela irmã. Abracei-a e fui a força dela, ela chorou e eu chorei com ela.
E com estas lembranças dos 4 últimos funerais a que fui, fico com lágrimas nos olhos.
Quando sei de notícias de mortes de pessoas chegadas "aos meus", as minhas palavras são sempre "Lamento muito", porque lamento mesmo muito a perda de quem me é caro, e sofro com a dor deles. Dependendo da ocasião, das pessoas em causa, do motivo da morte, tento animá-los, dentro do (im)possível.
Eu acredito em vida depois da morte, mas sofro antecipadamente de saudades de quem parte. E sofro por ver outros sofrer. A minha sensibilidade é assim.
Bem, não me estico mais.
Lamento a tua perda, Bruno, e lamento a tua tristeza. Acima de tudo, lamento toda a dor pela qual a Erica passou.
Beijitos
PS - E agora vou procurar um texto cómico teu para ler... :s
segunda-feira, novembro 16, 2009 12:15:00 da manhã
De facto, situações de perdas alheias são as que me deixam sem palavras. Nunca digo os meus sentimentos, ou pêsames porque eu não sinto nada não partilho a sua dor, e geralmente apenas fico triste pelo seu olhar. Ora, comparado com essa dor, que me é totalmente desconhecida, não deve ser nada.
Fico sempre meio constrangida. E não gosto. Principalmente porque não consigo dizer eu compreendo o que estás a sentir, e fico a olhar as pessoas à minha volta a fazer esse papel.
Enfim. Talvez antes tivesse perdido alguém.
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