A morte de um Anjo!

A queda de um Anjo. A morte de um herói, mesmo que figurativa.
Um sonho tornado utopia. O desgosto realidade.
O que poderia ser e não será, talvez nunca tenha sido.
Na minha mente reina a desilusão. Os meus olhos perderam o brilho.
Dói. Dói, descobrir que vivemos uma farsa.
Como uma criança que descobre que o pai natal não existe e perde o seu herói. Eu perdi parte de mim, perdendo o exemplo que seguia, cegamente.
O meu sonho, levando pelo vento como se de uma folha de plátano se tratasse. Esse sonho era parte de mim. Era importante e nunca será substituído.
Por mais motivos que venha a ter para sorrir. A tristeza que sinto hoje, estará comigo. Amanhã e sempre. Passando a fazer parte de quem sou.
Sentei-me na calçada fria, nua e indiferente aos meus sentimentos. Olhei o céu, procurei a lua e como um mau actor, num mau filme, gritei, "Porquê? Porquê?".
Chorei. Chorei compulsiva e soluçantemente. Chorei aquilo que perdi sem nunca ter tido.

Que se foda o Paulo Coelho! Eu também consigo apelar ao sentimento sem sentir. Porque raio escrevi isto? Porque a noite passada foi muuuuuuiiito gira.

O Zézé é uma farsa, ou então perdeu o toque. O homem falava, falava e falava. Ele falava o Inglês de praia, o Português de caverna e o Espanholês mas não o vi a comer nada. Aliás, ele até estava fodido, por nós, 2 fans da sua auto-intitulada "machidade", estarmos presentes e sermos testemunhas do seu falhanço.


- Já não é tão fácil como era, a idade pesa. - Dizia ele em derrota.

O ambiente era o que eu esperava. Muitas bifas sozinhas, muitos tugas casados disfarçados de solteiros. Aqueles que tiram a aliança de casamento, mas a marca da mesma é vista ao longe, devido à pele bronzeada. Usam óleo Fula no cabelo, pois não conhecem o gel e a brilhantina, já não se encontra com facilidade.

Bifas com pinta de casadas ou divorciadas, mas em férias sozinhas e com a cona aos saltos. Mulheres feias, mulheres bonitas, mas todas mulheres vividas.

O Zézé falhou. Elas queriam carne jovem e não 21cm de carne flácida. A musica era assustadoramente, deprimentemente foleira.

Pedimos uma garrafa de JB e uma de Licor Beirão para a nossa mesa. Sim, foi logo à garrafa. Já que aquilo parecia um bar de alterne, tem mesmo de ser à garrafa. Em menos de uma hora 1/3 do bar estava junto a nós. Cotas rebarbados com filhas mais velhas que as minha amigas. Babavam. Cuidadosamente perguntavam a idade antes de lançar o isco. A certa altura já não se viam as mesas, na zona ocupada por nós, estavam cobertas de garrafas e copos, nem sabíamos de quem eram, eram de todos e não eram de ninguém.
O próprio bar a certa altura ofereceu 1 garrafa à escolha. Escolhi James Martin de 20 anos, mas não podia ser. Pelo menos tentei.

A certa altura, o Senhor Borges, um comerciante do sector automóvel da zona de Viseu, disse:

- És um gajo de sorte.

- Eu, porquê?

- 4 namoradas e todas amigas. Nem eu, quando era novo.

- 4?

- Sim aquelas 4 que estão a dançar, disseram que eram tuas namoradas.

- Ah sim, essas. São amantes as minhas namoradas, são aquelas duas ruivas.

- Mas assim, todas ao mesmo tempo?

As miúdas, já estavam a usar o meu nome para as proteger de tanto abutre. Não podiam usar o Lésbico, visto que ele estava a fazer pista de obstáculos, a fugir ao ataque geriátrico daquelas mulheres vividas. A certa altura, uma até lhe deu uma lambidela na orelha. Uma Inglesa de Manchester que dizia ter 31 anos, mas ninguém lhe dava mais de 45.

Foi giro, fugimos daquele antro de perdição, sem olhar para trás. Deixando ao nosso ídolo caído, a promessa falsa de voltar.

A partir desse momento, a noite foi igualmente divertida mas sem corrermos o risco de acordar ao lado da mãe de alguém da nossa idade.

Por isso aqui fico, prisioneiro, no meu túmulo de palavras, desejando ser libertado pela verdade, que afinal não passou de uma mentira.
Aquele que foi um dia o meu anjo da verdade, foi ontem crucificado pela mentira...

Ok, vou-me calar, ou ainda choro. Isto hoje não está nada fácil .