"Um estudo cientifico
afirma que um cálice de absinto ao pequeno almoço aumenta o seu nível de
concentração além de ter propriedades antibióticas e previne algumas
formas de cancro!"
Esta afirmação tem a única intenção de
testar os leitores pois não é verdade. Inventei-a neste momento! No entanto tenho a certeza
que alguns de vós aceitaram a informação como verdadeira curiosos, ou não, de
ler mais sobre o estudo. Ora o facto de acreditarem em mim, além de
ser um voto de confiança, significa que o que escrevi conseguiu
ultrapassar o vosso ceticismo e nada, nenhuma informação externa o
deve conseguir fazer. O ceticismo é o que de mais importante
temos e é o que nos permite realizar a atividade mais difícil e cada
vez mais rara em sociedade: Pensar.
Desde
o momento em que nascemos somos
educados a não pensar. Desde crianças, aprendemos a aceitar toda a
comida vinda da mão dos adultos como sendo segura para comer. A
confiança cega que não nos vão deixar cair quando entre gargalhadas
nossas nos atiram ao ar. Na escola onde somos ensinados a decorar e a
assumir como verdades ideias e pensamentos de malucos, muitos deles já
falecidos, como sendo verdades universais. A assimilar o que
ouvimos na TV, Radio e lemos em jornais como sendo verdade por serem
historias rotuladas como noticias, e até ao mais simples "não penses
mais nisso" quando algo nos preocupa ou simplesmente estamos a
olhar para o vazio divagando. Tudo nos bloqueia, impede a atividade
de pensar.
Podem dizer que a ciência nos diz
verdades inegáveis e que não temos capacidade de as confirmar ou
negar e portanto não vale a pena pensar nisso. Mas vale!
"A ciência é a fé na ignorância dos peritos",
pois tudo que é ciência é sempre verdade inegável até ao momento
em que é negada e quando o é, é porque alguém pensou nisso. O melhor
exemplo e conselho para levar as pessoas a pensar é a frase filosófica, "pensar confunde, pense nisso". Isto porque
seja, cientista, jornalista, investigador, teorista, etc, ninguém deve
conseguir por palavras derrubar o vosso ceticismo, pois é ele que
vos fará pensar e desta forma estimular o cérebro e destacar o vosso
intelecto no meio do rebanho que segue ideias, ideais, tendências, ídolos e lideres.
O
tabaco já foi rotulado como saudável para tempos depois ser rotulado
de mortal. Os adoçantes nas atuais bebidas sempre foram considerados
seguros e agora tenciona-se colocar avisos nas bebidas, semelhantes
aos do tabaco, alertando para os perigos da sua ingestão em excesso.
Qualquer
estudioso
consegue encontrar argumentos para justificar as suas conclusões
pré-definidas com exemplos existentes. Como por exemplo: se
quiser estabelecer uma ligação direta entre pastilhas elásticas de
sabor a banana
e o suicídio, certamente vou encontrar imensos exemplos de suicidas
que mastigavam pastilhas elásticas de sabor a banana, podendo afirmar
que 587
pessoas em todo o mundo que comiam pastilhas de sabor a banana se
suicidaram
num determinado ano. Este exemplo é ridículo mas serve disso mesmo, de
exemplo, em que eu tendo uma conclusão, posso ir buscar factos que
a sustentem sem que sejam os factos a levar-me a uma conclusão. Além disso
uma estatística fundamentada, mesmo que de forma questionável, iria
fazer muita gente
acreditar que a pastilha elástica de sabor a banana pode ser mortal.
Conhecem a teoria da pastilha de mentol tirar a ereção?
Isto assenta na fraca
teoria de Causa/Efeito em que A causa B, ignorando que por vezes não
existe relação entre A e B. O João foi atropelado porque não olhou
para os dois lados ao atravessar a rua. A – não olhar para os dois
lados causou B o efeito de ser atropelado, mas se o João atravessar a
rua em 1645 dificilmente A causaria B pois não haviam carros. C que
sendo a estrada faz com que sua existência tenha causado A e B e também permita a existência de D, o carro.
Mas não é de ciência que quero falar, foi só um exemplo, no meio de
exemplos, da informação que consegue passar o nosso ceticismo.
Cada
vez
mais (e sempre) muitos leitores optam pelo caminho fácil, o de me
pedir factos e provas, o que permitiria, caso a minha intenção fosse
vos convencer do que escrevo, de buscar informação variada que de uma
forma ou outra pudesse sustentar o que escrevo e desta forma derrubar
o vosso ceticismo. Não é essa a intenção. A única intenção do que
escrevo é estimular o vosso ceticismo, levando o leitor a
investigar por si ou pelo menos a pensar. Independentemente de ver ou
não validade no escrevo, pensou, e com isso retirou algo de positivo
da interação comigo.
O
fato de não pensar leva-nos a outro erro, o de escolher lados.
Escolher lados é algo que nos ensinam desde pequeninos: Certo ou
errado, bonito ou feito, bom ou mau, Benfica ou Sporting, Religião ou
ateísmo, Socialista ou Social Democrata e qualquer debate onde
perguntam ao publico de que lado está.
Matar é errado, mas e se a vossa vida estiver em causa? Se ambos os candidatos são corruptos, pois é o atributo básico para se ser político, porque haveremos de escolher um?
Se existe o agnosticismo porque motivo deveremos defender ou negar a
existência de um ser que não podemos provar que existe ou que não existe? Por que motivo nos devemos colocar de um lado, se ao fazê-lo estamos a sair do único lado importante, o nosso?
O
fato de não acreditarem/concordarem em
um dos lados não significa que o lado que se opõe a ele seja o vosso
lado e muito menos o correto. Dois lados podem estar errados, algo muito
comum em política! Até em desporto de onde nada retiramos a não ser uma
momentânea, banal e ilusória satisfação de estar do lado de quem vence,
exceto quando perde! Não devemos pressupor que devemos defender B só
porque sustenta a nossa oposição a A. O inimigo do teu inimigo não tem
de ser
teu amigo, pode simplesmente estar-se a cagar para ti e por isso
podemos cagar para ele.
Investiguem ou não investiguem, pensem, sejam céticos pois irão tirar proveito
disso. Não acreditem em nada só porque soa plausível. Por exemplo:
sabiam que que existe uma probabilidade acima dos 70% das pessoas
acreditarem numa estatística só por ela conter valores decimais? Isto
mesmo
sabendo que a maioria das estatísticas são feitas numa comunidade com
mais semelhanças do que diferenças e onde a forma como a pergunta é
formulada pode influenciar a resposta desejada.Um bom exemplo é
perguntar a uma criança pequena se quer um chupa de morando ou de
laranja, a maioria escolhe laranja, mas se perguntarmos se preferem
laranja ou morango a maioria escolhe morango. OK, não é de uma forma tão
simples que se guiam os adultos a dar a resposta que desejamos mas é
possível e exemplo disso são os advogados cuja função é fazer a mesma
perguntas de formas diferentes para obter a resposta desejada e
imediatamente salienta-la.
Certo
é que que não podemos evitar a forma como fomos educados e é muito
complicado em sociedade, em particular na Europa, de submeter os
nossos filhos ao home schooling. Devido a uma escravatura
voluntaria chamada de emprego, ser impossível educarmos os nossos filhos e por isso, temos de os
entregar a domadores profissionais que em vez de os ensinarem a pensar,
os injetam com noções pré-concebidas mascaradas de verdades
absolutas. Com isto não quero demonizar os professores que como
qualquer trabalhador cumprem ordens, programas, com os quais muitos
deles nem sequer concordam mas que precisam de obedecer e é este o
centro da questão: Obedecer bloqueia o ato de pensar.
Todos
somos obrigados a obedecer a leis, regras sociais, de etiqueta, aos
mais velhos, a uma suposta autoridade que não é autoridade mas sim um
mecanismo de fazer valer a lei. Aceitar a informação que nos é dada
sem pensar é obedecer. Temos uma casa um carro e dinheiro no bolso
porque obedecemos e em muitos casos não temos nada e obedecemos na
mesma.
Neste
momento a mais poderosa arma de obediência é a TV que nos injeta
com informação de uma forma em que não existe a possibilidade de
pensar e sem pensar a assimilamos, na maioria dos casos, como verdade.
Reparem que durante as noticias além do Pivot nos bombardear com
supostas verdades ainda existem outras a correr em rodapé! Isso
serve para isso mesmo, para assimilarmos sem pensar.
O ser
humano tem um cérebro que serve para pensar e o ato de mentalmente
concordarmos ou discordarmos de algo não é pensar mas sim um
ato de fé que como qualquer fé, em particular a religiosa, condena o pensamento pois ele leva a questionar.
O cérebro é um órgão que existe
para mais do que ser estimulado pelas ondas eletromagnéticas da TV
que não passam de um anestesiante, que ao afetar o cérebro afetam todo
o corpo.
A
educação, em particular a universitária não passa de um treino da
mente com vista a seguirmos uma profissão, e ao conseguirmos essa
profissão seguimos programas, cumprimos prazos e fazemos o que o patrão
nos manda onde o ato de pensar é praticamente ignorado pois
o facto de perderem tempo a buscar a solução de um problema de escola
ou de trabalho, não passa de um ato de memoria, recordar de como se
resolve a questão seguindo regras impostas por regulamentos internos. Pensar é mais do estabelecer uma ordem de ideias
mentalmente sobre o que vamos fazer amanhã ou decidir sem falar se
vamos ver um debate político num canal ou um reality show noutro,
mesmo que o reality show vos faça sentir inteligentes devido ao nível
rasteiro de intelecto dos intervenientes. Ao ver TV a atividade básica do nosso cérebro
é uma simples escolha do personagem de uma série de quem gostamos e
que torcemos para que vença e um outro que escolhemos odiar só porque
sim. No entanto achamos que pensamos, pois no final da noite estamos
realmente cansados e vamos dormir achando que pensamos no que
iremos vestir ou fazer no dia seguinte, quando na verdade isso são meras
escolhas automáticas e não um raciocino útil.
Pensar
é chegar a uma conclusão que pode concordar ou discordar de um certo
tema, mas que é a vossa conclusão e portanto é a verdade, no termo correto de verdade como valor pessoal e não universal. Esta
atividade banal a que chamamos pensar não é na verdade pensar, pois é
uma atividade cerebral não factual e por isso não nos leva lado a
nenhum.
Como
podemos
realmente evoluir como seres humanos quando aceitamos toda a informação
que nos rodeia unicamente através dos olhos e ouvidos e
tentando evitar problemas para não os ter de resolver?
Passar uma vida inteira sem pensar é possível, algo que na verdade, se
pensarmos nisso (não custa tentar) percebemos que no fundo é um desperdício total de uma dádiva, sendo a dádiva a capacidade de
pensar e não a vida. A frase "penso logo existo" foi dita
por quem pensou nisso mas que não invalida que uma pedra, que não
pensa, não exista. Exceto se acreditam que criamos tudo
o que nos rodeia unicamente por pensarmos, uma conclusão a que só pode chegar quem pensa.
Seguindo
a teoria de "penso logo existo" como verdade absoluta só
prova que não pensam e simplesmente seguem o pensamento de terceiros
e portanto a vossa existência, de forma justificada, acaba sendo
colocada em causa a nível pessoal, pois não pensam, seguem pensamentos de
terceiros. Complicado?
Claro que é!
Por ser complicado é que por vezes, quem pensa, chega a concluir
que não chegou a conclusão nenhuma e no entanto retirou frutos do
processo.
A rotina, casa-trabalho-casa-TV-cama, coloca-nos ao nível intelectual dos animais em que neste caso os animais fazem algo mais produtivo nem que seja o cão que olha 2 minutos para a TV e resolve ir para trás do sofá lamber os tomates. Ele pelo menos realiza uma atividade normal justificativa da sua existência e não vegeta perante um retângulo luminoso estupidificador de massas. O cão ficou pelo menos com os tomates limpos, o homem não fez mais do que passar tempo que na verdade é perder de tempo. 1-0 ganha o cão!
A rotina, casa-trabalho-casa-TV-cama, coloca-nos ao nível intelectual dos animais em que neste caso os animais fazem algo mais produtivo nem que seja o cão que olha 2 minutos para a TV e resolve ir para trás do sofá lamber os tomates. Ele pelo menos realiza uma atividade normal justificativa da sua existência e não vegeta perante um retângulo luminoso estupidificador de massas. O cão ficou pelo menos com os tomates limpos, o homem não fez mais do que passar tempo que na verdade é perder de tempo. 1-0 ganha o cão!
Precisamos
de
desligar a TV pois há um mundo de coisas para fazer. Desde ler,
conversar, aprender ou treinar um instrumento, desporto, desenhar,
escrever seja diário ou ficção, qualquer coisa que estimule ambos os
hemisférios do cérebro para escaparmos a um rotineiro uso de metade do
cérebro. Fugir ao pensamento linear onde tudo é se centra em detalhes
ordenados e usar o holístico de onde partimos do todo para os
detalhes. Fugir ao sequencial e usar o aleatório. Largar por momentos
o simbólico e usar o concreto, ou o lógico experimentando o intuitivo.
Fugir da realidade entrando na ficção (ficção como criação pessoal e não
filmes). No fundo, por momento estará o
homem a pensar como uma mulher e uma mulher como um homem, não para
inverter os papeis mas sim porque temos um cérebro inteiro com dois
hemisférios e não faz sentido os homens usarem metade e as mulheres a
outra metade. Aqui entram os hobbys, os passatempos e assim que
arranjarem um não mais vão sentir necessidade de se deixarem hipnotizar
pela TV, e se a ligarem tempos depois ouçam o que é dito, desliguem-na e
pensem nisso.
Escrever
é
uma forma de usar ambos os hemisférios e se este texto foi escrito
usando maioritariamente o hemisfério esquerdo do meu cérebro, de seguida
poderei ir tocar um
pouco de guitarra ou escrever uma historia sobre a carreira
profissional e ambições de um herpes genital.
Nada é mais saudável e agradável do que ao
ler um livro sentirmos a necessidade de desviar os olhos das paginas só para refletir sobre uma frase. Terminarmos um texto e
ficarmos simplesmente em busca de uma conclusão pessoal.
Com
isto não quero salientar uma vã pseudo-superioridade alegando que
escrever este texto envolveu um ato concertado de pensamento, pois não é
verdade. Possivelmente não passou de um exercício holístico de onde
parti do geral (o tema) em busca de detalhes (o texto) e no fundo ele
unicamente representa metade do objetivo, sendo a outra metade a opinião
de quem perdeu ou ganhou tempo a ler esta treta. Perdeu tempo porque
não chegou a conclusão nenhuma. Ganhou tempo
pois pelo menos não estive a ver TV.
"Aprender sem pensar é tempo perdido. Pensar sem aprender é perigoso".