Os senhores da guerra (Parte 1)

Podem pensar que crise entre os EUA e o Irão é recente. Que se resume aos últimos 10/20 anos. Outros podem dizer que tudo começou em 1979 durante a revolução iraniana e a crise de reféns, quando um grupo de Iranianos invadiu a Embaixada Americana e manteve os seus funcionários prisioneiros até 1981. Na verdade temos de regressar ainda mais no tempo para perceber o que se passa hoje.

(Os reféns Americanos)
 
Em 1953 os Americanos usando a CIA e com apoio do MI6, foram responsáveis pelo derrube do governo democrático iraniano. Apesar disto ter sido negado por mais de 40 anos, Obama numa declaração durante a sua campanha de charme, no seu primeiro ano de presidência, pediu desculpa pelos actos de 1953 no seu famoso discurso no Egipto. Na verdade a interferência Americana tinha já sido assumida em 1999 pela então Secretaria de Estado Americana mas nunca tinha sido emitido um pedido de desculpas. 

Mas vamos recuar ainda mais no tempo, de forma a melhor perceber este ódio pelo Irão.
Em 1925 a dinastia Qajar no poder no Irão foi derrubada por Reza Khan que se tornou Shah e criou o parlamento Iraniano. Nesta altura foi inicializada a era industrial começando pelas vias de comunicação e sistema educacional nacional mantendo um equilíbrio, controlado, das influencias Russa e Inglesa na politica nacional. O principal aliado do Irão era a Alemanha e por isso em 1941 Rússia e Inglaterra invadiram este pais de forma a usarem as recém criadas vias de comunicação, em particular os caminhos de ferro, nos esforços de guerra contra o regime Nazi. O Shah foi obrigado pelos invasores a abdicar tendo sido substituído pelo seu filho, que permitiu que a forças invasoras tomassem controlo dos recursos naturais do pais, e em 1950 os ingleses controlavam quase todo o petróleo.
 
(O Shah: Mohammad Reza Shah Pahlavi)
 
Em 1951 após o assassinato do Primeiro Ministro Ali Razmara nomeado pelo Shah o Irão teve as primeiras eleições democráticas, ainda não por sufrágio universal mas sim, por voto parlamentar. O vencedor destas eleições foi Mohammad Mosaddeg que se tornou primeiro ministro após ratificação do Shah. Usando da sua enorme popularidade junto do povo, este Primeiro Ministro deu inicio a uma politica pro-Iraniana, passando a usar a riqueza do pais em nome do desenvolvimento da nação. Isto foi feito ao nacionalizar os poços de petróleo expulsando do pais a empresa, de seu nome Anglo-iranian oil company, hoje conhecida como BP, que há 50 anos explorava e furtava do Irão a maioria do petróleo produzido. Os Ingleses deram então inicio a uma serie de bloqueios económicos após perderem todos os direitos sobre o petróleo iraniano junto do tribunal mundial. Tendo tudo falhado, os Ingleses recorreram ao governo Americano para os ajudar. O Presidente Truman na altura recusou ajudar os Ingleses, mas em 1953 o Presidente Eisenhower foi convencido pelos Ingleses de que o primeiro ministro iraniano mantinha o seu poder com o apoio do partido comunista. Isto durante a guerra fria, que como sabem foi a altura em que era moda dizer que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço e qualquer politica centrada numa economia interna para desenvolvimento da nação era anti-globalização e portanto comunista e portando comiam bebés.

 (Mohammad Mosaddeg homem do ano 1951)
 
Foi então que os Americanos colocaram a CIA em ação na chamada operação Ajax, nome sugestivo tendo em conta que Ajax foi um guerreiro Grego que se infiltrou em Tróia escondendo-se dentro do cavalo de Tróia. Com o sucesso desta operação, os Americanos pseudo-defensores da democracia internacional, destruíram a democracia iraniana colocando o primeiro ministro na prisão e reforçando os poderes do Shah. Com o apoio Americano a política Iraniana mudou radicalmente com o Shah a tomar controlo da toda a politica nacional. Nos 25 anos que se seguiram ele governou pelo medo com a ajuda da policia secreta chamada Savak criada e treinada pela CIA e Mossad. No Irão deixou de haver oposição política, prisões, assassinatos, tortura de prisioneiros políticos e massacres da população em manifestações encheram jornais por todo o mundo. A gota de água, apesar de ter dado as mulheres o direito de votar, foi a tentativa de afastar o país do Islamismo sendo que 90% da população era Islâmica. Ao mesmo tempo o petróleo voltou para as mãos do Ingleses, com Franceses e Holandeses a terem também uma fatia do bolo. Nesta altura Ayatollah Khomeini era a voz mais crítica a toda a  politica do Shah mas foi preso por 18 meses e após ter sido libertado começou a expor a influencia Americana no regime Iraniano. Por pressão Americanas o Shah expulsou-o do pais tendo ficado em exílio durante 14 anos iniciando uma campanha anti-EUA e anti-Shah. 
 
(Ayatollah Khomeini)
 
Em 1978 deu-se inicio a um processo de mudança. A revolta iraniana também conhecida pela Revolução Islâmica. As consecutivas manifestaçoes levaram o Shah a declarar lei marcial proibindo demonstrações publicas o que gerou um protesto de 2 milhões de pessoas nas ruas da capital e uma greve que parou a economia iraniana. Esta revolta popular culminou com destituição do Shah e sua consequente fuga do pais. Logo de seguida Khomeini regressou ao pais.
A revolta iraniana e o seu sucesso apanhou o mundo de surpresa pois não foi causada por guerras ou crise economica mas sim por vontade popular.





(Continua)

3 Comentários:

  Streetwarrior

domingo, fevereiro 12, 2012 11:05:00 da tarde

Bruno, sabes de onde vem esse Shah Pahlavi ?
Sabes de onde vem o Pahlavi?
Como sei que não és parvo nenhum, vou-te dar uma das 1001 pontas do Novelo...depois segues tu e bates os links, cruzando mesmo assim, alguma da pouca e ficticia informação que a wiki disponibiliza.
Ora lê as minhas pesquisas.

http://espirra-verdades.blogspot.com/2011/05/as-13-familias-familia-pallavicini.html

Começa a traçar as dinastias ancestrais e percursos e ,observa como eles ocupam ambos os lados do campo de guerra através da disimulação.

Chega-lhes!!

Guerreiro

  Streetwarrior

domingo, fevereiro 12, 2012 11:11:00 da tarde

A melhor forma de seguires traços dinásticos, é através da simbologia dos Brasões.
Ora vê lá os simbolos da familia Qajar.
È tudo jogada de bastidor.

  Bruno Fehr

segunda-feira, fevereiro 13, 2012 7:52:00 da tarde

Streetwarrior:

Bastante elucidativo o link. Neste caso estou a tentar abordar o presente sem recuar assim tanto no tempo. Quase tudo o que se passa hoje pode ser ligado ao passado mais remoto mas conclui que o primeiro passo para que quem esta por fora consiga digerir o presente, passa por não mergulhar muito no passado.