Vendas de dívidas

Mas que história é esta de vendas de dívidas? Para que serve? Como funciona? O que é que o governo Português a e UE estão realmente a fazer?

Existem vários tipos de vendas de dívida, um deles é assim referido mas é na verdade uma venda de créditos.

Tipo 1: Vamos supor que eu devo 1.000 Euros à pessoa X, não tenho nenhuma intenção de os pagar e a pessoa X não tem forma de cobrar esse dinheiro mas está a precisar urgentemente de dinheiro. Neste caso a pessoa X vende esta dívida, na verdade está a vender o crédito. A pessoa X contacta a pessoa ou empresa Y que é perita em cobrar dívidas e vende esses 1.000 Euros de créditos a receber por 500 Euros. A pessoa X fica contente pois 500 Euros é melhor que zero e a pessoa Y cai em cima de mim como um pesadelo, cobrando os 1.000 Euros com juros.

Tipo 2: Vamos supor que estão com uma grave crise financeira. Não conseguem pagar a vossa quinta no Douro e a vossa empresa está a falir. Existem empresas peritas em comprar bens nestas situações. Vocês vendem a quinta e/ou empresa com dívidas e quem compra fica responsável pelo seu pagamento. Neste caso vocês recebem pouco ou nada mas pelo menos já não devem nada a ninguém. Quem compra beneficiou do juros que vocês pagaram em mensalidades e ficou com um bem imóvel a um preço inferior ao do mercado.



Tipo 3: O Estado Português deve dinheiro ao Banco Central Europeu de anos de créditos em que o dinheiro serviu para acender imensas fogueiras e comprar luxos dispensáveis. Neste momento o governo Português não pode pagar a por isso está a vender a dívida. O que difere este caso dos exemplos anteriores é que quem compra a dívida fica a dever esse dinheiro. Como é que alguém no seu perfeito juízo compra algo para ficar a dever?
O processo é simples quem compra a dívida a Portugal fica a dever dinheiro a Portugal dinheiro esse que Portugal deve. Ao pagarem esse dinheiro a Portugal, Portugal deverá pagar ao Banco Central Europeu (esperemos que sim), mas ficamos a dever esse dinheiro a quem nos comprou essa dívida. 

Mas afinal se ficamos a dever o dinheiro que pagamos, o que ganhamos com isso?
Um prazo maior para pagar e uns juros mais baixos. Se a nossa dívida está com 7% de juros quem nos compra a dívida deverá exigir uns juros mais baixos como por exemplo 4%.
Ficamos a dever exactamente o mesmo dinheiro mas com juros mais baixos. É como que juntar os vossos créditos de vários bancos num só crédito em um banco que vos cobra menos juros e vos dá um prazo mais alargado de pagamento.



E o que é que o comprador da dívida ganha com isso além dos juros?
Poder! Vamos imaginar um país como a China que está numa guerra aberta pelo controlo do mercado internacional. Este país poderá exercer pressões para a alteração de certas leis, como por exemplo, o impedimento legal de um grupo estrangeiro controlar mais de 50% de um banco português. Obter regalias e benefícios especiais para empresas chinesas a serem instaladas em Portugal,  solicitar um voto favorável em reuniões da NATO, etc, etc, etc e tal.

Resumindo, ficamos presos pelos tomates e a dever favores a um império estrangeiro.

Apesar de eu não concordar com este método ridículo, pois não paga dívida nenhuma, simplesmente a esconde, fiquei abismado ao ver quem é o grupo que mais dívida portuguesa está a comprar... Esse grupo é nem mais nem menos que o Banco Central Europeu!

Estão a ver o esquema? Nós devemos ao Banco Central Europeu e como não conseguimos pagar, colocamos a dívida à venda e o Banco Central Europeu compra a dívida... No final ficamos a dever exactamente o mesmo, exactamente ao mesmo banco mas com juros melhores até ao dia que os resolverem aumentar.

Estão gozar com a nossa cara, por isso não se iludam com uma solução para esta crise. Com ou sem venda de dívida, tendo em conta quem a está a comprar, iremos passar por um mau bocado e se houver melhoria esse mau bocado irá regressar quando for conveniente, pois nada mudou.

Uma analogia simples deste caso usando "eu" e "tu" é simples. Tu deves-me 100 Euros que precisas pagar até Sábado com 10% de juros. Chegados a Sábado tu não tens o dinheiro por isso eu empresto-te 110 Euros para que me possas pagar (o que te dou, recebo por isso invisto 0) e tens até Sábado para me pagar esses 110 Euros com 9% de juros. Nunca te vais livrar da dívida e na verdade ela está em constante crescimento mesmo que eu te vá baixando os juros. 

Exactamente à hora que estou a escrever esta frase 02:55:55 estamos a dever 156.093.790.956, 45 Euros e que está a aumentar acima dos 1.000 Euros por segundo. E quem é que ainda culpamos? Este senhor:


41 anos após a sua morte, ele ainda é o bode expiatório que desculpa os mesmos 41 anos de incompetência politica. Será que algum Alemão culpa Hitler pela crise Alemã? Claro que não, pois não há crise na Alemanha, em vez de passarem a vida em busca de culpados, eles agem!

9 Comentários:

  shark

terça-feira, janeiro 25, 2011 1:39:00 da tarde

Vendo dívida barata, motivo à vista.
Se necessário desloco-me ao domicílio com tradutor de mandarim.

  Anónimo

terça-feira, janeiro 25, 2011 2:24:00 da tarde

Em Maio de 2010, tendo em conta a subida dos juros dos titulos de divida publica alemã a 10 anos (tidas como valor de referência)e cotadas hoje na bloomberg a 2.5, o BCE lançou o programa "Securities Market Programe", que consiste basicamente em comprar divida publica aos Estados Membros em dificuldades, Portugal é evidente foi um dos alvos.
Resta dizer, que uma das medidas adoptadas pelo BCE para o combate à crise financeira depois da queda do Lehman Brothers, foi abrir completamente a torneira do financiamento e basicamente emprestar todo o dinheiro que os governos (e insittuições financeiras) quisessem pela taxa fixa de 1%. O que se passa, é que Portugal vende a divida, à taxa de 7% (o retorno exigido por quem a compra)pagando juros ao comprador enquanto que pede dinheiro emprestado a 1%. Contrasenso, claro.
Senão vejamos, PT pede ao BCE 1000€ a uma taxa de 1%, teria k pagar de juros 10, no entanto, ao mesmo tempo, emite um titulo de divida e vende-o ao BCE, tendo que lhe pagar pelos mesmos 1000€, 70. E a culpa é do Salazar?? yeah right. Ele pelo menos na altura vendeu a divida toda aos ingleses em troca do volfrâmio e juros mais baixos... se existisse o BCE na altura, tenho em crer que ele não se metia neste carrossel magico :p

  Cristiano Reinaldo

terça-feira, janeiro 25, 2011 7:12:00 da tarde

um post sobre o grande st pauli pede-se! eheh

parabéns pelo excelente blog. textos sempre bem fundamentados e também divertidos, como a malta gosta. não sou muito de ler blogs, mas guardei este espaço nos meus favoritos. continua com essa fome de escrever, pois terás sempre um leitor atento deste lado!

  lunatiK

terça-feira, janeiro 25, 2011 9:38:00 da tarde

Viva Bruno

Sempre me ensinaram que uma dívida é algo que nunca fica mais pequeno, pelo contrário, está sempre a crescer, mas acho que todos estes estudiosos e iluminados ainda não compreenderam isso, ou melhor compreenderam e bem.
Agora que o nosso país está uma bela merda a nível de trabalho, seg. social, etc, aparece a Sra. Merkel a convidar os cérebros Portugueses para irem trabalhar para a Alemanha.
Isto é uma américa, como diz uma amiga minha.
Um abraço

  Bruno Fehr

quarta-feira, janeiro 26, 2011 1:11:00 da manhã

shark:

Felizmente, neste momento, não tenho dívidas nem quero comprar, mas se perder a pouca sanidade mental que tenho, já sei a quem me dirigir.

  Bruno Fehr

quarta-feira, janeiro 26, 2011 1:12:00 da manhã

Maya Gaarder:

Eu sempre vi as limitações de exportação e imposição de importações mais o subsídios para o desenvolvimento dentro da UE como uma forma de endividamento e estamos agora a ver com dói ter de pagar todo o dinheiro mal gasto. Estamos nós a pagar por dinheiro que nem vimos!

"é que Portugal vende a divida, à taxa de 7% (o retorno exigido por quem a compra)pagando juros ao comprador enquanto que pede dinheiro emprestado a 1%. Contrasenso, claro."

A Grécia tecnicamente já nem um país é, no estado em que está actualmente é como se fosse um protectorado Europeu e acho que Portugal será o próximo.

  Bruno Fehr

quarta-feira, janeiro 26, 2011 1:12:00 da manhã

Cristiano Reinaldo:

"um post sobre o grande st pauli pede-se!"

Ui, isto está mau. Começaram bem o ano depois da subida à primeira liga mas se não acordam descem novamente. Mas esteja em que liga estiver Sankt Pauli é sempre grande :)

  Bruno Fehr

quarta-feira, janeiro 26, 2011 1:12:00 da manhã

lunatiK:

Eles percebem muito bem. O que eles querem é quebrar alguns países onde o sentimento nacionalista é mais forte e torna-los dependentes de forma a facilitar a Federação Europeia... o Presidente fantoche já existe.

"aparece a Sra. Merkel a convidar os cérebros Portugueses para irem trabalhar para a Alemanha."

Sem dúvida. O governo Alemão anda a apelar à imigração para a Alemanha de pessoal qualificado em particular: Eng. Civil e novas tecnologias, tentado limitar a imigração sem qualificações.

Mesmo com a crise Europeia e pelo menos no Estado onde vivo, o desemprego é praticamente inexistente e a procura de trabalhadores qualificados é imensa.

  João

quarta-feira, janeiro 26, 2011 3:17:00 da manhã

Muito bom artigo! E obrigado por me esclarecer em relação a essas "compras de dívidas". Já agora, o que acha do que o senhor Medina Carreira diz na Sic Notícias aos sábados às 22h no programa Plano Inclinado? Ele pode estar sempre a dizer o mesmo, mas tem alguma razão não acha?