Bastidores da música (Parte 24) Amor ou Psicopatia?

Há alguns anos atrás namorei com uma rapariga com gostos musicais que entravam em conflito com os meus e torturava-me com o seu amor pelo Techno, mas havia uma música da qual ela gostava mesmo não sendo da sua geração, essa música chama-se Every Breath You Take cantada pelo Sting e criada no grupo Police.

 (Sting no papel de Jesus)

Muitos milhões de pessoas em todo o mundo conhecem esta música e tal como esta ex-namorada, acham que é uma música romântica que fala de amor. Fala? Nunca consegui encontrar uma réstia de amor nesta letra e sempre achei que as pessoas acham que é um tema romântico pois simplesmente ligam à musicalidade e à forma como é cantada, pois se prestassem atenção à letra iriam perceber que é uma letra psicopata que fala de controlo e posse de uma pessoa sobre outra. Vamos analisar a letra em questão:

"Every breath you take. Every move you make. Every bond you break. Every step you take. I'll be watching you!
Every single day. Every word you say. Every game you play. Every night you stay. I'll be watching you!
Every move you make. Every vow you break. Every smile you fake. Every claim you stake. I'll be watching you!"

Onde exactamente está o amor? O que ele canta é que não importa onde ela esteja, onde ela vá, o que diga, faça, pense, queira, construa, destrua, viva ou morra, ele estará lá a ver, a observa-la. Isto é uma espécie de Big Brother, um stalker doente, controlo total sobre o que outra pessoa faz pois acha que tem o direito de controlar os movimentos, opiniões, ideias e vontades de terceiros.

  (álbuns de Sting com destaque para o olho)

"Oh can't you see, you belong to me. How my poor heart aches with every step you take"

Aqui ele esclarece que é obsessão e não amor, pois acha que a outra pessoa lhe pertence apesar de o ter rejeitado e partido. A dor que ele sente ao vê-la não é amor mas sim a dor de não aceitar a rejeição.

"Since you've gone I've been lost without a trace. I dream at night, I can only see your face. I look around but it's you I can't replace. I feel so cold and I long for your embrace. I keep calling baby, baby please..."

Este sentir-se perdido sem ela, o facto de a ver em sonhos, o achar que nunca a poderá substituir e o necessitar do abraço dela, tem mais de dependência emocional do que de amor. Ele não a ama, depende dela e isto não é amor é um desejo, uma paixão obsessiva irracional. Ele continua dizendo que constantemente lhe telefona a implorar, o que é uma demonstração de falta de amor-próprio além de falta de amor por não respeitar os sentimentos dela.
 (Controlo: aceitável por ser moderno versus condenável por ser passado)

O amor-próprio não depende de outra pessoa e os problemas começam quando se acha que sim. Ao acharmos que gostamos mais de nós porque outra pessoa gosta, isso não é amor-próprio mas sim falta dele. Da mesma forma quando alguém nos acusa de, por algo que tenhamos dito ou feito, termos destruído o amor-próprio dessa pessoa, isso é coisa de loucos e é prova de que o amor-próprio nunca existiu, pois se é próprio é pessoal e terceiros não o podem destruir.
O amor não nasce, não morre, não se constrói nem destrói. O amor simplesmente é. Existe! O amor vive dentro de nós mas pensamos que não, só por não o sentirmos e isto porque não o sabemos procurar interiormente. O amor é simplesmente direccionado por nós para terceiros e não nasce ao conhecermos esse terceiro.

O amor é, tal como a felicidade é. Ninguém está feliz, o verbo estar não entra na frase, só o verbo ser importa. As pessoas são felizes, a felicidade tal como amor existem dentro de nós e somos nós que os bloqueamos por não acreditarmos. Existem. Nós é que não nos permitimos amar ou ser felizes.



"Oh can't you see. You belong to me. How my poor heart aches. With every step you take."

Ninguém pertence a ninguém mesmo quando a outra pessoa se entrega. O verdadeiro amor é uma posse livre, queremos ter essa pessoa mas se amamos, temos deixar que tenha a sua liberdade por forma a sentir-se feliz.
 
Não sei quantos de vós já tiveram como namorado/a uma pessoa louca controladora, que após acabarem a relação são perseguidos, vigiados, massacrados por essa pessoa. Recebem chamadas de madrugada onde ninguém fala só para saberem se estamos em casa. Ao irmos à janela vemos que essa pessoa está num carro do outro lado da rua, talvez querendo ver quem entra, quem sai. Pessoas que se recusam a aceitar que a relação acabou e forçam o reatar dessa relação pois acham que amam e que nós somos propriedade dessa pessoa. Pessoas que não percebem que após o final de uma relação fica sempre um sentimento, um carinho especial por essa pessoa que, quem sabe um dia, nos poderá reaproximar mas ao ter este tipo de atitudes o resultado é esse carinho transformar-se num ódio irracional onde o simples facto de ver essa pessoa na rua nos estraga o dia.
Eu tive um relacionamento assim, com um final doentio e nesta altura esta música não me saía da cabeça pois era a descrição perfeita do que aquela mulher me estava a fazer.



Tal como referi acima, acho que esta música é sobre controlo, não fala de uma relação entre homem e mulher mas sim entre elites e sociedade. Entre câmaras de segurança, bases de dados pessoais, bancos de DNA, passaportes biométricos e cartões do cidadão, cada passo que damos, cada viagem que fazemos, cada opinião que temos alguém estará a observar. A banda chamava-se The Police, o braço armado dos governos Big Brother. Na minha opinião, esta letra está dentro do assunto desta série e ela é na verdade ele, que pertence à industria e tudo o que faz, diz ou pensa é controlado.



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4 Comentários:

  Kohinoor

quinta-feira, maio 06, 2010 12:51:00 da tarde

Em defesa do Sting, ele tem outra contraditória.
Vê esta versão "If you love somebody set them free" http://www.youtube.com/watch?v=bSAo2YELOZA

Ou revoltou-se com a industria musical, ou ganhou juizo com o sofrimento controlador da Everybreath you take!

Concordo com a tua definiçao de amor próprio e felicidade pessoal, são somente a percepção que cada um tem de si próprio e cada tem a liberdade de escolher o que vê, o que pensa, o que diz e o que faz.

Sinto pena quando oiço músicas que com melodias porreiras e que ao tomar atenção às letras demonstram uma imaturidade emocional tão grande! Como se outra pessoa fosse responsável pela felicidade dos outros. Daí só vem inseguranças, tentativas de controlo, paranoias, manipulações, e todas os dramas que vende tão bem nas comédias romanticas.

  Anónimo

quinta-feira, maio 06, 2010 5:30:00 da tarde

Nãaaa...nunca tive relacionamentos desse tipo, porque sou livre demais e muito inteligente para me envolver com pessoas desse tipo... "pequeninas"!

São essas pessoas que matam as mulheres quando elas os deixam. Convenhamos que a grande maioria a ter esses comportamentos, a não suportar a rejeição são homens!

Isto não é a mesma coisa que não suportar não ser amado, porque eles até nem se importam de ter as mulheres do seu lado, mesmo sabendo que elas só estão com eles por medo. É não conseguirem gerir a rejeição; são mt "frágeis" mentalmente, mas fazem-se de fortes, agredindo, ameaçando e matando.

Mas enfim, há mulheres que confundem este controlo com amor. Tontinhas, mal sabem que brincam com o fogo.

F.M.

  Anónimo

quinta-feira, maio 06, 2010 7:38:00 da tarde

O Sting escreveu a letra desta musica depois de ter seperado da sua primeira mulher Frances Tomelty. E sobre um/a stalker.

  I.D.Pena

domingo, maio 09, 2010 10:00:00 da tarde

Concordo com a tua análise, essa musica em questão também me estrangula um bocado argh mas é passado , infelizmente essa forma de posse é super mas super comum na raça humana que tem acesso à tecnologia e enquanto as pessoas não pararem para pensar um bocadinho, mas realmente pensarem que o amor nada tem a ver com a posse, nada tem a ver com controle mas sim liberdade, vergilio ferreira sabia disto, mas poucos o percebem, a liberdade do amor está aí na demonstração espontãnea nada intencional e sem interesses ou contrapartidas, mas pronto a verdade é que é um dos muitos exemplos de como esta sociedade está completamente deformada e era provavelmente mais saudável se fizessemos exactamente o contrário do que nos dizem para fazer.