Ink

Apesar de na minha opinião a sociedade e todas as suas bases não passarem de ilusões, sou em essência tal como qualquer outra pessoa um consumidor. Se não o fosse, seria perfeito e se fosse perfeito não seria humano e se não o fosse, nada seria.

Se o iPod está na moda eu consumo YP-P3. Se o PRS-505 está na moda em compro Kindle, e por aí em diante. Não para ser diferente, simplesmente por ter um percepção diferente do que sei que não preciso mas que de certa forma decora o meu dia-a-dia.

Isto para falar de cinema. Claro que sou consumidor de Hollywood, mas tenho consciência que nada nos dá a não ser a ilusão do era uma vez..., as vidas interessantes de pessoas belas, as vidas glamorosas dos maus da fita onde por mais pessoas que morram o final é sempre o final feliz, pois toda a história está desenhada para gostarem de quem querem que gostem, para odiarem quem querem que odeiem. Um história onde tudo vos é dado e raramente vos deixam espaço para pensar. Apesar de ser um interessante passatempo e um circo do que a tecnologia pode fazer para mudar a nossa percepção (efeitos especiais), dou por mim num outro mundo do cinema. Nem a série A mainstream, nem a série B de Cannes que para mim não passam de duas faces da mesma moeda. A série B são os primos pobres adoptados por quem se quer fazer passar por intelectual de bolso.

É por isso, que vos apresento o cinema Indi (Independent films), relegado para cinemas escuros onde poucos vão, deixado de fora das páginas dos principais jornais do meio, mas seguidos por uma multidão anónima que os vê, os vive e que não o consegue descrever. Cada filme torna-se numa espécie de culto e se o cinema é arte estes filmes são a elite pois mais nenhum nos deixa interpretar, mais nenhum é tão livremente criado, mais nenhum nos obriga a parar o filme para pensar no que acabamos de ver, mais nenhum nos mostra outras perspectivas da mesma realidade.

Ink é um desses filme, uma obra prima da arte de fazer pensar, um filme que após vermos 3 vezes, em todas elas vemos algo diferente e no final não estamos nem perto da intenção do autor, pois o objectivo não é ver o que ele viu ou nos mostra, o objectivo é divagar pelas meias ideias que o filme nos pede para completar. A arte é mais do que algo para expor e maravilhar, pois se ela não nos fizer pensar é tão inútil como todas as decorações que tão caro pagamos, tão ardentemente amamos, tão escravizadoramente dependemos, só para que muito em breve as tenhamos de trocar pela sequela.

A ideia era falar-vos de um filme que em vez de hit movie ele foi catalogado como it movie, mas não tenho palavras para o descrever e não conheço quem por palavras lhe tenha feito justiça. Tal como dizem, uma imagem vale mil palavras e as 500 anteriores nada disseram:




"Tudo são reacções! Uma coisa leva a outra. Um homem tem uma fraqueza, uma falha. Essa falha leva a culpa. A culpa leva-o à vergonha, ele compensa a vergonha com orgulho e vaidade, e quando o orgulho falha o desespero toma conta dele e isso leva-lo-à à sua destruição."


Este filme não é um filme Indie profissional é um filme feito por um estudante de cinema, que se não se deixar corromper e se honrar a sua arte, tornar-se-à sem dúvida num líder da cena independente. Vejam pois não conheço outro filme que recomendaria com tanta convicção. Mas se procuram algo simples então o melhor é dirigirem-se ao cinema mais próximo e alimentar a estupidificadora industria de filmes gravados em fitas de ouro!

10 Comentários:

  Jane Doe

quinta-feira, dezembro 17, 2009 1:39:00 da manhã

Subscrevo.

Completamente.

Mas completamente!

1, 2, 3, 4

1, 2, 3, 4

1, 2, 3, 4...

  Hazel Evangelista

quinta-feira, dezembro 17, 2009 11:10:00 da manhã

Não gosto de filmes com cenas violentas, apesar disso, creio que este seja um bom filme, sim.

  Unknown

quinta-feira, dezembro 17, 2009 12:04:00 da tarde

Concordo contigo sobre o cinema Indi embora desconheça o Ink. Ao ler a descrição que fazes desse filme em particular lembrei-me do "Hard candy" que achei genial. Outros que vi recentemente como "Open Water", "Creep" (tinha que incluir um de terror, claro!)também são exemplos de que é possível fazer grandes obras com um orçamento baixíssimo.

  Bruno Fehr

quinta-feira, dezembro 17, 2009 12:25:00 da tarde

Jane Doe:

"Hello dirt, we meet again"

  Bruno Fehr

quinta-feira, dezembro 17, 2009 12:25:00 da tarde

HAZEL:

Longe disso, este filme não tem nada de violento, tem um acidente de automóvel numa das melhores descrições de sequências de eventos que já vi, em que demonstra que a melhor das intenções poderá levar à maior das tragédias.

Na verdade este filme assenta em pressupostas anti-violentos onde a violência contra nós próprios é a nossa opinião de nós mesmos, algo que nos condena e prende espiritualmente.
Não gosto de filmes com cenas violentas, apesar disso, creio que este seja um bom filme, sim.

  Bruno Fehr

quinta-feira, dezembro 17, 2009 12:25:00 da tarde

Sylvia FX:

O único problema que encontrei no filme, é que para dar um ideia de mundo irreal, para criar uma ilusão de sonho, ele deu grande destaque aos brancos o que na minha opinião não será algo bem aceite pela maioria, pois pode irritar os mais foto-sensíveis.

  luafeiticeira

quinta-feira, dezembro 17, 2009 8:20:00 da tarde

Obrigada pela proposta.

Bom Natal

A Heidi III finalmente regressou.
joca

  Deus

segunda-feira, fevereiro 07, 2011 9:39:00 da tarde

Recomendo-te o filme The Fountain do Darren Aronofsky...

  Bruno Fehr

segunda-feira, fevereiro 07, 2011 9:57:00 da tarde

Deus:

Obrigado, eu tenho esse filme e adorei. Já que estamos a recomendar veja o Donnie Darko.

  Deus

quarta-feira, fevereiro 09, 2011 2:00:00 da manhã

Também já vi, é muito bom. Obrigado

Se ainda não viste recomendo-te também o Blow com o Johnny Depp

Cumprimentos